Sábado de manhã, simplesmente um sábado comum. Ana acordou
cedo, levantou, colocou um vestido preto, um sapato de salto, ajeitou os
cabelos e pediu para que alguém lhe levasse a igreja. Sua falha memória não lhe
deixa se lembrar quem dirigia ou sobre o que conversaram ao longo da viagem, ela
só lembra de chegar na porta da igreja e começar a chorar. Ana mandou seguidas
mensagens para ele e claro, não obteve resposta. Respirou fundo, agradeceu a
pessoa que a levou e saiu do carro, se dirigindo para o interior da igreja,
sozinha pela primeira vez. Seu coração apertava e Ana não sabia o por que. As
pessoas a olhavam diferente, e ela não o achava em lugar algum. Chorava em
silêncio, sem saber o motivo, e se sentou no fundo da igreja, ouvindo a
palavra.
Nesse dia, ele não estava lá para levá-la até o banco onde
seus amigos sentam, mas seus pais estavam lá, nos bancos do lado oposto de onde
ela estava, como sempre. Eles não a viram chegar e entrar, não viram as
lágrimas em seus olhos, enquanto o pastor falava sobre o amor e sobre perdas.
Perdas... Ela precisava dele a todo custo e novamente, seus dedos se moveram
pelo teclado do celular, enviando diversas mensagens e não obtendo resposta
alguma. O que será que aconteceu?, Ana
pensava, sem entender. Talvez ele tenha
dormido demais..., e então ligou para seu celular, que chamou por diversas
vezes até cair na caixa postal. Seu coração se apertava cada vez mais, sem
noticias dele. Porque não a respondia? Porque a deixava tão angustiada assim? Ana
fechou os olhos e falou com Deus. Pediu para que Ele lhe explicasse o que tinha
acontecido com ele, porque estava sendo ignorada. Logo, mais lágrimas caiam de
seus olhos e ela não conseguiu suprimir um soluço.
Como num baque, tudo veio à sua memória. No dia anterior, Ana
estava nesta mesma igreja, sentada no banco da frente onde antes, sentava-se
com ele. Seus amigos e familiares sentados nos outros bancos, todos de preto
olhando para o púlpito e chorando enquanto o pastor dizia palavras de conforto. Os pais dele estavam péssimos mas ninguém
estava pior do que ela. Seu estado era caótico e tudo o que Ana conseguia fazer
era chorar, e se perguntar: Por quê?.
Nunca obteve resposta. Quando tudo chegou ao fim, os amigos dele se aproximaram
dela, desejando melhoras e pêsames. Aquilo só a matava mais e mais por dentro.
Como poderia melhorar, se nunca mais o teria ali? COMO EU SERIA FELIZ SEM ELE?, ela tinha vontade de gritar, mas não o
fez. Ana simplesmente acenava com a cabeça, aceitando as condolências de
pessoas que nem se quer a conheciam ou falavam com ela antes desta tragédia. E
novamente ela chorava. Chorava pelos planos que nunca realizariam, chorava
pelos filhos que nunca teriam, chorava porque ele era o único que a fazia feliz
e agora, não estava mais lá! E Ana não sabia o que faria sem ele! Estava
perdida. E então, depois de toda a pressão daquele enterro, depois de tanto
chorar, ela desmaiou.
E foi então que acordou naquele sábado, como se ele nunca
tivesse partido. Como se, quando chegasse na igreja, ele a buscaria na porta,
mais lindo do que nunca de terno e gravata, ou apenas de terno e calça jeans,
com uma das blusas que ela lhe deu. Mas ele nunca veio e nunca mais viria. Porque
ele se foi! Se foi sem poder dizer adeus e o coração de Ana doía tanto que ela
não sabia o quanto iria aguentar. O culto chegou ao fim e seus olhos inchados e
embaçados não a permitiram ver nada a sua frente, então abaixou a cabeça e voltou
a orar. Não se lembrava das palavras usadas, só se lembrava de ouvir uma voz a
chamar baixinho... Ao erguer a cabeça, o pai dele estava na sua frente. Sem
dizer palavra alguma, se abraçaram e ela chorou mais ainda, sendo acompanhada
por ele. Que sensação ruim! Ele a chamou para almoçar com eles e Ana aceitou.
Mas não seria a mesma coisa... Nunca mais seria a mesma coisa, porque nunca
mais o teria para esquentá-la, nunca mais o teria para abraçá-la e acompanhá-la
numa soneca. Oh, Deus! Não posso seguir
sem ele! Não tem sentido!, ela pensava, a cada minuto que passava, a cada
objeto que via e se lembrava dele, a cada foto.
E então, com um arrepio e com um susto, Ana acordou! Acordou
de verdade, na vida real, com o travesseiro molhado de lágrimas, e os olhos
ardendo. Foi só um pesadelo! Só isso!,
ela pensou, pegando o celular correndo e discando o numero dele. Ele atendeu no
segundo toque e ela suspirou aliviada.
“Bom dia, meu amor!”,
ele disse com a voz rouca de sono e Ana não pôde deixar de sorrir.
“Bom dia, bebê! Eu te
amo tanto! Mais do que tudo... Não esquece disso nunca!”, respondeu a
garota, com lágrimas nos olhos.
“Eu também te amo, meu
anjo. Mais do que tudo para sempre.”, ele disse, e o coração de Ana enfim
se alegrou.
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Foi pesado, doeu e quase me matou escrever esse texto, mas foi mil vezes pior, ter essas cenas na minha cabeça. Meu amor, você sabe que eu não escrevi pensando no seu mal, pelo contrário... Desejo imensamente que nada do que foi escrito aqui aconteça. Mas eu precisava tirar isso do meu pensamento e transformar em palavras. Só assim, eu poderia me esquecer! Eu te amo mais do que tudo, e sempre vou amar! Lembre-se disso, não importa o que aconteça. Eu sempre estarei com você! Eu prometi, não foi? Para sempre e depois disso também!